terça-feira, dezembro 05, 2006

A SOLIDÃO QUE EU NÃO DESEJO

“Crazy ,
I’m crazy for felling so lonely
I’m crazy,
Crazy for felling so blue”
(...)

Crazy, written by Willie Nelson, performed by Patsy Cline


É um estado de espírito ou um sentimento, como lhe queiram chamar, que aparece sem aviso, bem devagar, vai-se instalando e tomando o controlo da situação, sem darmos por isso apanhou-nos na sua teia. A solidão, há quem acredite, é o castigo de Deus, o Inferno na Terra, pior que a própria morte. Esta é, talvez, a maior das fragilidades humanas (quero aqui lembrar que muitos castigos e torturas passam pela ausência de contacto humano, de troca de palavras e/ou afectos). Depois dela resta-nos a loucura, depois da loucura só a morte e não há nada mais triste que morrer sozinho, depois disso a memória de quem existiu apaga-se porque não há quem a recorde. A solidão é o pior dos castigos.

“A Streetcar Named Desire” aborda o tema da solidão em (quase) todas a personagens, homens e mulheres, das mais frágeis às mais fortes, das principais à secundárias. Todas elas têm em comum o medo da solidão.
Blanche vive numa espécie de redoma de vidro, criou um mundo próprio onde todas as suas fantasias são possíveis. Ela vive desesperada em busca de uma família, de um homem que a ame. Procura preencher esse vazio, essa falta, com aventuras, já nesta altura tem medo de estar sozinha. Quando conhece Mitch, pensa que pode ser ele o homem que procura. Ou, melhor dizendo, Blanche aceita casar-se com Mitch em desespero de causa. Quando se apercebe que isso não vai acontecer, e depois de ter sido violada por Stan, a loucura toma conta dela. No fim, morre para o mundo real, não passa de um fantasma, de um fragmento humano.
Stan receia tanto a solidão que cada vez que Stella sobe a escada ele grita, desesperado, por ela. Os dois receiam ficar sem o outro, e, na minha opinião, Stella volta para Stan pois, apesar de ela já não estar sozinha, o desejo (e talvez o amor, ou hábito) dos dois vai acabar por vencê-la.
Assim acontece com o outro casal, o que os une é apenas o medo da solidão. Eles são o futuro de Stan e Stella.
A mãe de Mitch, que o espectador nem chega a conhecer, tem medo pelo filho. É a única personagem que tem medo por outra, porque sabe que vai morrer e o filho estará com ela. Por outro lado Mitch é seu filho e ela preocupa-se com o seu futuro, teme que fique sozinho quando ela morrer.
A solidão é o medo maior e as mulheres [e os homens] fazem tudo para não ficarem sozinhas[os].

Joana Barbedo
dARQ