terça-feira, dezembro 12, 2006

Identidades: O Rio Suzhou, de Lou Ye

O filme trata de identidades, confundidas, trocadas, secretas, perdidas, encontradas, novamente perdidas para de novo se encontrarem…

A primeira identidade que nos é apresentada neste filme é a do rio Suzhou. Ele é, provavelmente, a personagem principal, pois é a partir dele que surge esta história de amor, tal como dele nascem inúmeras histórias de Shanghai. A identidade de Shanghai é-nos apresentada de uma forma diferente da cidade moderna que conhecíamos. Aqui, vemos uma Shanghai escura, de arquitectura extremamente degradada, cujo rio sujo é o cenário da vida de gente pobre que dele subsiste ou que nele habita.
O narrador é uma personagem deste filme e a sua identidade é muito complexa, não conhecemos o seu nome nem o seu aspecto, pois é ele que está a filmar. A personagem de Mardar e a do narrador anónimo são a certa altura confundidas devido à obsessão que ambos têm pela misteriosa Meimei.
A personagem de Meimei é ambígua; tanto pode parecer uma perigosa sedutora com um passado desconhecido, como uma rapariga romântica. Moudan é também uma personagem estranha; pode ser uma jovem estudante naïf, quase infantil, como uma adolescente sedutora e madura. Ambas têm em comum a entidade “sereia”; tanto a boneca que Mardar oferece a Moudan no seu aniversário como a imagem da sereia Meimei a nadar no seu aquário, são símbolos de esperança e optimismo, no meio da “sujidade” de Shanghai. Estes contrastes ilustram a incompatibilidade entre a fantasia romântica e a realidade objectiva.
Depois de o narrador nos contar a história da busca obsessiva de Mardar por Moudan, e da crença dele que Meimei é a rapariga que procura, o espectador oscila entre a hipótese de Meimei e Moudan serem realmente a mesma rapariga e a de haver duas raparigas idênticas em Shanghai.
No fim do filme, o narrador não cumpre aquilo que afirmara a Meimei no diálogo do início, e não a procura quando esta parte, como Mardar procurou Moudan.

Este é um filme sobre identidades, necessidades e desejos, bem como da nossa habilidade para reinventar o mundo à nossa volta de acordo com o que queremos.
Joana Pimenta
dARQ