quinta-feira, dezembro 08, 2005

O cordeiro abriu o sétimo selo e fez-se um silêncio no céu


Entre o voo silencioso da águia do Apocalipse sobre o mar, ao romper do dia, e a dança macabra na crista da colina que varre o ecrã de lado a lado, no despertar da manhã seguinte, o cavaleiro Antonius Block trava o derradeiro jogo de xadrez com o Ceifeiro de manto negro. Três lances bastam para que o cavaleiro sofra cheque-mate.
Entre um dia e outro, o caminho percorrido construíra um mapa de peste, medo e intolerância. E à busca angustiada do cavaleiro pelo conhecimento, a Morte responde sempre que nada sabe. Até ao fim, quando é chegado o momento da coreografia que encerra o espectáculo da vida.

No início, porém, quando a águia sobrevoa a praia, já tudo se anunciara: quando o cordeiro abriu o sétimo selo, fez-se no céu um silêncio de cerca de meia hora.
É desse silêncio terrível, e só dele, que o filme de Bergman nos fala com tanta eloquência: o inelutável, definitivo e irreversível silêncio.
É verdade que o jogo de xadrez não poderia ter tido outro resultado. Apesar disso, Antonius Block consegue o supremo feito de enganar a Morte, poupando a esta a inocente e sagrada família de saltimbancos, Jof, Mia e Mikail.
Porém, porquê? E para quê?

Abílio Hernandez