sábado, outubro 15, 2005

O cinema enquanto experiência estética

O curso procura ser, sobretudo, um exercício do olhar, a busca de um modo de reflectir sobre o cinema enquanto experiência estética.
Cada um dos filmes do programa é analisado não apenas – nem fundamentalmente – enquanto produto industrial que também é, mas como objecto que materializa a experiência estética sobre a qual tentamos construir um discurso articulado.
Porque a arte não é objectivável, ou pelo menos não o é no sentido em que podemos classificar um fenómeno verificável em laboratório, o nosso discurso situa-se não no campo da experiência científica, mas no território incerto da intersubjectividade.
Privilegia-se a perspectiva do espectador activo, que refaz ou reescreve o filme de cada vez que o vê, como se esse conjunto de imagens, gestos, sons e silêncios apenas ganhasse vida quando encontra ou é encontrado pelo nosso olhar.
Que não é nunca uma visão de voyeur, mas se constitui, em vez disso, como um olhar de flâneur, que constrói e partilha sentidos possíveis com os fragmentos de espaço e de tempo que no seu percurso vai descobrindo. Sem qualquer ânsia de consenso interpretativo ou preocupação de uma comunicação fluida e límpida. Mas com abertura ao ruído da incomunicação e com amplo espaço para a dúvida, a incerteza e a ambiguidade.

Abílio Hernandez