segunda-feira, outubro 17, 2005

No hay banda


Na aula da semana passada, reflectimos sobre os limites da interpretação Na próxima 2ª-Feira, vamos analisar Mulholland Drive.
Todos sabem, mesmo os que ainda não o viram, que se trata de um “filme difícil”, cheio de mistério e de sinais: chaves azuis, uma peruca loura, um cowboy improvável, um prestidigitador, um par de mafiosos, óculos de sol opacos, bolsas de mulher cheias de notas, sonhos, amnésias, paixão, traições, identidades fugidias…
É grande a tentação de encontrar uma explicação para tudo e, com isso, reduzir o filme de Lynch a um puzzle ou a uma trama policial que a psicanálise pode ajudar a resolver. Mas se há tentações a que não devemos resistir, esta não é uma delas. Não procuremos, por isso, descodificar o filme a todo o custo.
Em Mulholland Dr. as imagens estão quase sempre para além da função puramente narrativa e resistem a qualquer tentativa de lhes fixar um sentido definitivo. Habitam uma zona indefinida entre o real e a fantasia, um espaço quase líquido em que a sensualidade toma conta do nosso olhar.
Talvez possamos dizer que este é, verdadeiramente, o território privilegiado da imagem fílmica. Habitemo-lo então, ainda que isso signifique, neste filme fascinante, ficar na margem instável da significação.
Quando entrarem no Club Silencio, lembrem-se: “No hay banda. There is no band, it's all a recording. It's all tape.”

Abílio Hernandez

3 Comments:

Blogger Luís Aguiar-Conraria said...

Muito engraçado ler isto. Eu e o meu house-mate (José Cao-Alvira) passámos umas horas tentando descodificar o filme. Há especialmente uma peça que julgamos não se encaixar no puzzle. Já pensámos explorar outros filmes de Lynch, na esperança de que essa peça se encaixe nalgum outro puzzle.

terça out. 18, 09:20:00 da manhã  
Blogger Manel Pureza said...

Se se entra em Lynch pela porta dos sonhos, procura-se sempre, como nos nossos próprios sonhos, um chão mais ou menos palpável, que se possa sentir e dizer: é seguro, seguir em frente! Lynch defende que o cinema deve poder falar das abstracções da vida, daí que todo o seu cinema conte com uma plasticidade que muito se assemelha ao indizível, o banal torna-se tétrico e da imagem mais normal sentimos medo.
Lynch quer desabituar o espectador comum da estrutura narrativa aristotélica baseada em três actos, por isso convida-o a perceber cada imagem fílmica como um elemento explicado em si mesmo...mulholland drive faz todo o sentido do princípio ao fim (já repararam que o primeiro plano se afunda numa almofada?) sem que as coisas tenham de ser ditas por essa ordem.
Tal como em Eraserhead, a mente possui recantos que ganham vida..Lynch é um genial cicerone de mundos que nos habitam a nós e não o contrário.

terça out. 18, 09:27:00 da tarde  
Blogger Seminoir said...

Claro, Hugo, apareça sempre que quiser ou puder.
as visitas são bem-vindas e agora até temos espaço de sobra no Anfiteatro II da Faculdade.

Abílio Hernandez

sexta out. 21, 07:43:00 da tarde  

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